#MuseumWeek 2018: o POLIN Museu da História dos Judeus Poloneses, em Varsóvia


Viajar pelo Leste europeu é necessariamente imergir na história trágica, e recente, desses países... E, como não dizer, na história dos judeus. A Polônia, antes do Holocausto, já contou com 3,3 milhões de judeus, e, de fato, a história do país e desse povo está intimamente interligada. Assim, Museu da História dos Judeus Poloneses (Muzeum Historii Żydów Polskich – POLIN) é um must do em Varsóvia. Nele, pude aprender, e apreender, mais de 1000 anos de história. Confesso, que depois de alguns dias em cidades cheias de museus sobre o Nazismo e o Comunismo, inclusive após visitar Auschwitz, já tava meio de "saco cheio" disto tudo. Assim, quase pulei esse museu. Mas, que bom que fui, ele narra muito mais do que essa parte da história...


Inaugurado em 19 de abril de 2013, ele localiza-se no bairro onde ficava o Gueto de Varsóvia, o maior gueto judeu da Europa ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.



estrutura pós-moderna em vidro, cobre e concreto


Na entrada, o Monumento aos Heróis do Gueto em comemoração ao Levante do Gueto de Varsóvia, ato de resistência que foi a primeira revolta armada de civis no interior da Europa ocupada pelos nazistas.




Situado em um belo edifício projetado pelos arquitetos finlandeses Rainer Mahlamäki e Ilmari Lahdelma, o projeto recebeu o prestigioso Chicago Athenaeum International Architecture Award em 2008.


A arquitetura minimalista de babar.com vidros enormes e paredes onduladas, onde o corte na estrutura de vidro evoca a separação do Mar Vermelho e também simboliza as rachaduras na história judaica polonesa.




Sua exposição principal, aberta em outubro de 2014, ocupa mais de 4.000 metros quadrados, e consiste em oito galerias onde a a história milenar da comunidade judaica na Polônia é documentada, e celebrada. Celebrada através de uma narrativa multimídia com instalações interativas, pinturas, documentos, fotografias, histórias orais, entre outros itens selecionados por mais de 120 acadêmicos e curadores.


De posse do audioguia (não há em português), comecei a exploração...




A primeira galeria, Floresta, é onde ouve-se a lenda: ao atravessar uma floresta os judeus perseguidos ouviram a palavra "POLIN" que significa "Fique aqui" em hebraico. Eles ficaram... Polin, Poland, 🇵🇱, Polônia... Assim, nos próximos mil anos, o país se tornaria o maior lar europeu da comunidade judaica.


Na segunda galeria, Primeiros Encontros (século X-1507), lendas e histórias sobre os primeiros judeus que chegaram ao país ainda no século X.






Aqui encontramos Ibrahim ibn Jakub, um diplomata judeu que veio de Córdoba. "É abundante em comida, carne, mel e terra arável", escreveu ele em árabe.



Tocando nas telas aprende-se sobre as viagens e hábitos judaicos à época (comidas, vestimentas, etc).





artefatos

O objeto mais antigo do museu, uma moeda gravada com letras hebraicas, foi cunhada no século XIII por artesãos judeus. Sob o Estatuto de Kalisz,os judeus tinham permissão para se estabelecer na Polônia por Boleslau, o Piedoso.



Como era a organização da comunidade judaica nas diversas cidades polonesas em tempos medievais.













A parede das relações reais com os judeus. Conta a lenda que o Rei Kazimiers lhes deu muitas garantias devido à sua paixão pela bela Esther.






Um dos objetos mais interessantes apresentados na galeria é a primeira frase escrita em iídiche no livro de orações de 1272.


Na terceira galeria, Paradisus Iudaeorum (1569-1648), aprende-se que a tolerância religiosa na Polônia fez dela um "Paradisus Iudaeorum" (paraíso judaico).








Exposições localizam o assentamento de judeus no país e documentam a relação entre os reis poloneses e seus súditos judeus na era da Comunidade Polaco-Lituana.








Os primeiros livros iídiches do mundo foram impressos em Cracóvia em meados do século XVI, um dos fatos aprendidos à medida que se passeia pelos corredores.










Esta era de ouro da comunidade judaica na Polônia terminou com pogrons durante a Revolta Khmelnitsky de 1648, que devastou as comunidades judaicas e deixou a República Polaco-Lituana em ruínas. Este evento é marcado por um galho de fogo simbólico que leva à próxima galeria.





A Cidade Judaica (1648-1772), uma das galerias mais legais. Ela apresenta a história dos judeus poloneses até o período das partições. É demonstrado por um exemplo típico de uma cidade fronteiriça, onde os judeus constituíam uma parte significativa da população.







Um filme retrata a vida das mulheres à época. E, há referencia a igreja e as contradições dos católicos com os judeus de quem tomavam dinheiro emprestado.



A peça central da exposição é a sinagoga de madeira reconstruída na galeria Todas as sinagogas de madeira dos séculos XVII e XVIII, construídas em cidades e aldeias onde os judeus compreendiam uma grande proporção da população, foram destruídas pelos alemães. Então, os curadores decidiram recriar a bem documentada sinagoga de Gwoździec (hoje, Ucrânia). Ela foi originalmente construída c. 1650, em seguida, renovada na década de 1720, e destruída durante a Primeira Guerra Mundial.







telhado e teto foram reconstruídos por um grupo de artesãos e estudantes.



Telas explicam cada um dos seus detalhes.
















Os novos lideres espirituais



A seguir, na galeria Encontros com a Modernidade (1772-1914), aprende-se que a Polônia perdeu sua independência durante as partições do final do século XVIII e, como resultado dessa tragédia nacional a população judaica da Rússia, Prússia e Império Austro-Húngaro aumentaram significativamente.






Aprende-se também sobre mudanças nos rituais judaicos tradicionais e outras áreas da vida, além do surgimento de novos movimentos sociais, religiosos e políticos.










Casamentos












Durante a revolução industrial, judeus empreendedores como Herman Epstein e Jan Bloch construíram as primeiras ferrovias.


As estações de trem






A exposição inclui o papel desempenhado por Izrael Kalmanowicz Poznański, um dos fundadores da indústria têxtil na cidade polonesa de Lodz (uma de suas descendentes, Alicia Poznansky, era casada com Jacques Parizeau, um líder do separatista Parti Quebecois), no século XIX.





Este período também é marcado pelo surgimento do antissemitismo moderno, que os judeus poloneses tiveram que enfrentar no final do século XIX. Com os pogrons em erupção no império russo a partir da década de 1880, os judeus emigraram em massa. Cerca de dois milhões de judeus partiram entre 1881 a 1914. A maioria imigrou para os Estados Unidos, o Canadá atraiu 105.000, e setenta mil se estabeleceram na Palestina Otomana.









A galeria Rua Judaica (1914-1939) é dedicada ao período da Segunda República Polonesa (a Polônia alcançou a independência em 1918), que é vista, apesar dos desafios que o jovem país teve que enfrentar, como uma segunda idade de ouro na história dos judeus poloneses.



Primeira Guerra Mundial




Rua Judaica






Um cronograma gráfico é apresentado, indicando muitos dos eventos políticos mais importantes do período entre guerras.



Essa galeria é muito interessante, pois pode-se passear por uma rua típica de Varsóvia na época. Há um café que era frequentado por escritores e atores, há um gramofone e um lugar onde pode-se bailar. Esse espaço recria um típico bairro judeu antes da Segunda Guerra. Ainda, se pode explorar através de documentos e multimídia tudo sobre a cultura (cinema, teatro e literatura), folclore, e política deste período.








Subindo-se ao mezanino, segue-se por diversas cidades e pode-se acompanhar como era a vida da comunidade judaica. Destaque para área dedicada às escolas.






A turbulência econômica e o crescente antissemitismo, no entanto, lançam uma sombra escura. O clima ruim é transmitido por pôsteres e fotografias gráficas. E por uma citação pungente do poeta judeu Julian Tuwim denunciando o racismo.

A galeria seguinte aborda a tragédia do Holocausto (1939-1944) que resultou na morte de aproximadamente 90% dos 3,3 milhões de judeus poloneses.







Logo ao entrar neste setor, ouve-se o baralho de bombas e aviões... nos deparamos com uma Polônia ocupada por alemães e pela URSS. Terror!!



Extraordinário é a visão a partir de uma ponte simbólica sobre a rua Chlodna. Abaixo, o chamado lado Ayran... puro horror nazista sobre os poloneses.



Merece atenção a história do Gueto de Varsóvia apresentada através de documentos, depoimentos, e relatos coletadopor Emanuel Ringelblum e o grupo clandestino de voluntários que usavam o codinome Oyneg Shabbos. Doenças, superlotação, fome, raiva, e sofrimento, tudo cruelmente exposto.





ponte real





A rebelião






Cartão de alimentação




Gostei muito da imitação de um bonde que passava pelo gueto, e do relato das reações do povo em geral em relação ao que ocorria por lá... da total indiferença à tentativa de ajuda.





Colaboração?!?






A invasão alemã da área ocupada pelos soviéticos marcou o começo dos assassinatos em massa e das deportações para os campos de extermínio.






Em preto e branco, há uma triste área que se refere às crianças que foram "abandonadas" pelos pais em conventos e na casa de poloneses.

A árvore representa uma floresta próxima a Vilna, onde 100000 judeus foram mortos a tiros.



Seis milhões de judeus foram mortos no Holocausto. Três milhões eram poloneses.




A última galeria mostra os Anos do Pós-Guerra (1944-presente), quando a maioria dos sobreviventes do Holocausto emigrou por várias razões, incluindo a tomada da Polônia pelos soviéticos no pós-guerra, a hostilidade de parte da população polonesa e o anti-Estado patrocinado pelo Estado.














O pogrom de 1946, em Kielce, expulsou os judeus em massa, assim como a campanha antissionista patrocinada pelo Estado em 1968. Um excerto de um artigo indignado de Mieczyslaw Rakowski, o editor da revista Polityka, denuncia a caça às bruxas anti judeus.









Uma data importante é o ano de 1989, marcando o fim da dominação soviética, seguido pelo renascimento de uma comunidade judaica pequena, mas dinâmica na Polônia.

Enfim, muitas, e boas, informações em uma visita interativa, colorida e interessante. Reservem ao menos três horas para conhecê-lo.

Endereço: Anielewicza 6.

Como chegar
  • Ônibus: 111, 180 (parada: Nalewki Muzeum). Acho a forma mais fácil e que te deixa mais perto.
  • Tram/bonde: 4, 15, 35 (parada: Muranów)/17, 33, 37, 41 (parada: Anielewicza)
  • Metrô: parada Ratusz Arsenał.


Horário:segunda, quinta e sexta das 10–18h/quarta, sábado e domingo das 10–20h. 


Abraços!!

Comentários

Postagens mais visitadas